quinta-feira, 17 de abril de 2008

Assim foi "A Voz da Águas"

Escrito por Paulo Almeida
Fotos: Allan dos Reis
Realizamos o Sarau no estacionamento da ONG IPAZ , na confluência das ruas Cap. Paulo Carrilho e Dr. Cícero de Alencar.

Nossa vontade de atuarmos ao ar livre mais uma vez nos deixava receosos com a possibilidade de chuva . Dinho Nascimento providenciou uma lona para proteger o público e o equipamento de som cedido pela subprefeitura do Butantã. A uma hora do início do sarau os ventos constantes de outono rasgavam a lona e frustravam nossa tentativa de instalar uma cobertura.

Restava-nos olhar para um céu parcialmente azul e confiar num sol maroto que não fazia promessas a ninguém.

O palco foi montado lateralmente à praça do Morro do Querosene . Dois microfones e respectivos pedestais , uma mesa de som de 12 canais e duas caixas amplificadas. Colocamos cadeiras para acomodar parte do público que durante o sarau também ocupou a rua Cap. Paulo Carrilho . Alguns moradores puderam acompanhar o sarau de suas janelas.


Às 16h20 iniciávamos as atividades agradecendo o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, nossos colaboradores Movimento Jovem Consciente (Treme Terra ) , subprefeitura do Butantã e a ONG IPAZ . Em seguida o poeta Paulo Almeida leu a crônica de Léo Jaime "A Água no Mundo".

"Poeta Paulo Almeida lendo o texto de Léo Jaime"

" Vou correndo, como se isso me fizesse escapar dos pingos da chuva que se inicia. Menos tempo na chuva, pode ser ilusório, mas tenho a impressão de que ficarei menos molhado, de que chegarei menos ensopado. Com o canto do olho observo o senhor que com a mangueira termina de limpar a calçada, mesmo sabendo que a chuva há de modificar todo o cenário nos próximos instantes. Ou vai trazer de volta toda a sujeira que ele está tirando ou vai lavar outra vez o que ele acabou de lavar.A água que cai do céu cai purinha, purinha, é o que penso enquanto corro dela. A água que cai do céu. Lembro-me do livro da Camille Paglia em que ela afirmava, ou pelo menos foi o que me recordo de ter dali subtraído, que o homem havia optado por viver em grupo por temor aos fenômenos naturais: chuvas, clima, terremotos etc. Foi preciso se unir contra as forças da natureza. As forças amorais na natureza. Quando passa um furacão levando tudo, bons ou os maus, estão todos ameaçados. Quando chove muito e tudo começa a inundar, anjos e demônios poderão estar, em breve, igualmente submersos. Quando a água falta, senhores e escravos morrem da mesma sede. Há forças mais poderosas que a maldade humana.Os destinos turísticos são, em sua maioria, lugares interessantes por causa da água. Praias, lagos, rios, cachoeiras: somos naturalmente atraídos pela água. A simples vista para o mar ou rio já torna um ambiente mais interessante. Parece óbvio o que digo mas se levarmos em conta que grande parte do planeta é tomado por água isso passa a ser, sim, digno de nota: vivemos em meio a tanta água e ainda somos tão fascinados por ela! Nosso organismo é também, em sua maior porção, água. Somos água, viemos da água, para a água voltaremos e, enquanto tivermos como aproveitar a vida, queremos fazê-lo perto de alguma fonte de água límpida, na beira de um rio ou mar. Navegando, que seja. Queremos água.Vivemos, porém, sob o alerta de que a água pode acabar. É preciso economizar. Parece absurdo pois a água é absolutamente indestrutível! Se você toca fogo ela vira fumaça e depois volta a ser água, se congela ela derrete e volta a ser água, seja lá o que se faça com ela, a água volta a ser água depois de um tempo, pura e cristalina. E na mesma quantidade! Pois é. Mas pode voltar salgada. Sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar? O prejuízo maior que a água pode sofrer é a poluição. Uma vez poluída a água pode demorar muitos anos para voltar ao seu estado natural, potável, como os pingos da chuva lá do início.Volto ao início e ao senhor que tentava varrer uma folha de árvore, pequenina, da porta de seu prédio, segundos antes da chuva começar. Quantos litros de água pura ele desperdiçava naquela tarefa imbecil? Não seria mais fácil varrer a folhinha ou pegá-la com a mão? Aquela água correria para o bueiro e se juntaria ao esgoto cheio de substâncias químicas e de lá iria parar sabe-se lá onde, mas, poluída, demoraria um tempo enorme para voltar para o reservatório d'água da cidade. Este tempo é que pode ser o suficiente para uma cidade entrar em caos por não ter o que beber. A água não vai "acabar" nunca, mas talvez, um dia, não possamos usufruir dela onde e como gostaríamos. Talvez as grandes desgraças naturais não nos metam tanto medo porque o que nos vai derrotar mesmo sejam as folhinhas nas calçadas. Aguadas de estupidez".

Fizemos o sarau exaltando a água e exortando a chuva . Entre as intervenções poéticas e musicais , pessoas da platéia foram convidadas a ler pequenos textos disponíveis numa caixa referente ao tema . O Dia Internacional da Água foi lembrado ( instituído numa conferência da ONU em Paris no ano de 1998)e informações tais como a necessidade de reciclar pilhas e baterias que contaminam com metais pesados lençóis freáticos.

Enquanto as intervenções poéticas e musicais aconteciam , dois cavaletes foram dispostos à direita do palco e o artista plástico convidado , D’Ollynda , mostrou seu talento pintando ao ar livre diante do público. Ao fim do sarau duas telas estavam prontas : uma assinada por D’Ollynda e outra por Carol a convite do próprio D’Ollynda.

"Telas pintadas por D`Ollynda (esq.) e Carolina Teixeira (dir.) no sarau serão leiloadas"

O sambista Biriba apresentou-se com "Samba de Exaltação" (Pasquale/Silvio Modesto); Samba do Morro (Nardão da Pérola Negra); "Salve Ogum" (Midas/Biriba).

"Biriba toca seu cavaco ao lado de Dinho e Felipe"

Cecília Pellegrini esclareceu pontos da Associação Cultural do Morro do Querosene e trouxe formulários para inscrição. Oportunamente chamou a atenção para os restos de um sofá empilhados na praça por alguém que óbviamente tinha a intenção de queimá-lo.

"Cecília explica a comunidade o trabalho da Associação Cultural do Morro do Querosene"

O cantor e compositor Malungo interpretou "Veja Margarida"(Vital Farias);" Planeta Azul" e "Coletânea"(composições próprias).

"Malungo e seu violão durante apresentação no sarau"

A banda Encanta Realejo foi muito aplaudida e contou com uma "canja" de mestre Dinho Nascimento ao berimbau.


"Encanta Realejo levou o público ao delírio com suas músicas e interpretações corporais"

O Coletivo Poesia Maloquerista também é destaque com intervenções de Berimba de Jesus e Caco Pontes.

"Os maloqueista e suas poesias descontraídas"

Queremos ressaltar a participação das crianças no evento , em especial o desempenho de Laura, filha de D’Ollynda, e o pequeno Gabriel , que demonstraram seriedade e talento precoce em instrumentos de percussão.

"A pequena Laura e o Gabriel dão uma canjinha aos músicos no sarau"

Por volta das 18h15 nuvens escuras traziam uma chuva rala que poderia danificar os equipamentos e desplugamos microfones e caixas de som. O Sarau do Querô, porém, transcorria em tão bom astral que o público continuava a chegar e por cerca de uma hora continuamos sem amplificação e sem iluminação, com a intervenção do grupo de música experimental de Osasco e improviso por parte dos poetas Paulo Almeida e Clóvis Ribeiro.

O Sarau do Querô contou com público de aproximadamente 100 pessoas.

Após encerrar as atividades do dia, a equipe de produção do Sarau do Querô levou os restos de sofá para um container que posteriormente seria recolhido pelo serviço de coleta de entulho da prefeitura.

Ps.: Não foi postado mais fotos neste post devido ao limite do blog. Serão publicadas no próximo.